História
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Enquadramento Histórico
O composto “Vila Chã” refere-se, no primeiro elemento, muito provavelmente a uma “villa” agrária de remota instituição; já o segundo elemento, “Chã”, deriva do latim e reflete a topografia local, designando um local plano.
O documento mais antigo referente a esta povoação data de 1033 e revela uma doação que D. Vistrégia Galindes fez a Gutierre Troitosendes e sua mulher, das villas que possuía entre os rios Cávado e Ave, a villa Terroso e a villa “nominata Vila Plana”. É notório que nessa época deveria já existir em Vila Chã a igreja de S. Mamede, igreja “própria” na origem (o que concorda com a situação posterior de padroado), estando de acordo com a elevada antiguidade do culto do respetivo titular, S. Mamede.
As Inquirições de 1258 em Vila Chã, da 'Terra da Maia”, dividem a paróquia em duas secções ou “villas”: a de Vila Chã e a de Mirance (Mirante).
A freguesia foi sempre do termo da Maia (até a formação do concelho de Vila do Conde) e como tal beneficiou do foral da Maia, dado por D. Manuel I, a 15 de Dezembro de 1519.
Quanto à Igreja de S. Mamede, paroquial, ela já não era nova no século XIII, e o Mosteiro de Roriz, que possuía então vastas possessões na paróquia, talvez por doação de fidalgos antigos (século XI-XII) dele padroeiros, era o padroeiro da dita igreja, talvez pela mesma via e proveniência; pois lê-se nas Inquirições de D. Afonso III, a propósito da pergunta feita ao próprio pároco de 1258, o padre Gonçalo Mouro, sobre quem o nomeou, que o apresentara o “prior de Rooriz” ao bispo do Porto para confirmação. Tendo o Mosteiro de Roriz, vindo a pertencer à Companhia de jesus, compreende-se que a Igreja de Vila Chã passasse aos jesuítas e, deles, pela extinção, à Universidade de Coimbra, e por fim, ao padroado real.
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Património Cultural
O padroeiro da freguesia é S. Mamede, falecido a 17 de Agosto do ano de 275. São Mamede ou Mamede de Cesareia, é um santo venerado tanto pela Igreja Católica como Ortodoxa. Nasceu no séc. III na cidade de Cesareia na Turquia, hoje Kayseri, e que na altura estava sobe o poder do Imperador Romano Aureliano.
Cedo ficou órfão, pois os seus pais foram presos e mortos devido a praticarem a fé cristã, fé esta que era alvo de perseguições desmedidas, por parte de Demócrito, responsável pelo Império Romano na zona. Posteriormente foi adotado por uma abastada senhora, mas aos 15 anos volta a ficar sozinho pois a sua mãe adotiva também morre.
Desde cedo pratica as virtudes cristãs, nomeadamente a oração e instigava os seus companheiros na sua prática, ensinando-lhes as verdades da fé e incitando ao comprimento dos Mandamentos de Deus. Embora fosse possuidor de avultados bens, devido à fortuna da sua mãe adotiva, procurava viver como pobre, empregando essas riquezas em obras de caridade, visitando assiduamente doentes e encarcerados.
Perseguido pelos Romanos, é capturado e condenado a prisão perpétua devido à sua fé, tendo-lhe sido confiscados todos os seus bens, mas nem assim Mamede renunciou à sua fé. Foi torturado barbaramente no sentido de renunciar à fé cristã que tão devotadamente professava, mas como não se mostrava disposto a ser vencido, o Imperador ordenou que lançassem o corpo de Mamede ao rio Karassou, esperando que o mesmo encontrasse a morte, no entanto, ainda não era a altura para Mamede sucumbir, tendo sobrevivido. Mais tarde e após um período em que passou a viver de forma solitária como eremita, no monte Argeo, voltou a ser preso, juntamente com jovens a quem ensinava a doutrina de Cristo. Passados alguns dias de cativeiro, Mamede recebe inspiração para abrir as portas da prisão e libertar aos seus discípulos. Este episódio enfureceu de tal maneira Alexandre (sucessor de Demócrito como responsável do Império Romano), que prometeu matar Mamede a todo o custo.
Assim, quando o recapturaram foi colocado vivo numa fornalha ardente para ser reduzido a cinzas. No entanto o fogo não lhe fez qualquer mal, tendo Mamede saído ileso da dita fornalha, motivo mais que suficiente para ser enviado para o meio de feras numa arena, para ser devorado. Porém qualquer das feras ao chegar junto de Mamede, amansava e até o protegia. Alexandre, envergonhado e enraivecido manda então que abram o abdómen de Mamede com um ferro tridente. Mamede caiu por terra, com as entranhas saídas para fora, dando a entender que estaria morto. Mas, não tinha chegado ainda a hora de Mamede, pois mesmo mortalmente ferido recolheu as próprias entranhas e apoiado num cajado ergueu-se e caminhou até ao monte Ergeo, onde ouviu uma voz celestial que finalmente lhe disse que tinha chegado o seu momento de entrar no reino dos céus.
O seu corpo foi recolhido e honrado pelos fiéis de Cesareia e vizinhança, tendo a história da sua santidade deixado uma notável fama, tendo sido apelidado de “O Grande Mártir”. Mais tarde, o seu corpo foi transladado para Jerusalém, e depois para Constantinopla, onde se conservou durante muitos séculos. No século VIII as suas relíquias, foram levadas para Langres em França, para a Catedral de Saint-Mammès.
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Monumentos
Forte
Nesta freguesia existiu um forte mandado construir em 1796 pelo Príncipe Regente D. João, sobre a areia, junto ao canal da Aguilhada para evitar incidentes entre os barcos de guerra espanhóis que ali aguardavam oportunidade de atacar de surpresa os navios ingleses. Portugal pretendia manter a neutralidade que era assim conseguida apesar da fragilidade e do baixo poder deste fortim.
O Forte foi construído, em cima da areia, com a forma semicircular. A sua bateria ficava mais acima, tendo uma rampa de acesso construída em pedra. Existiam 5 canhoeiras com as necessárias armas. Mais atrás, em frente da rampa de pedra, construiu-se uma casa que servia de paiol e de quartel. O Forte estava cercado por pranchas de madeira, sendo as colocadas do lado do mar para fixar as areias. À volta do quartel foram implantadas fortes estacas de madeira.
Com o final da Guerra Peninsular (1807-1814), o Forte perdeu a sua utilidade e foi sendo abandonado, apesar de continuar armado. Mais tarde serviu as tropas miguelistas durante a Guerra Civil (1832-1834), sendo abandonado e saqueado pelo povo após o desembarque das tropas liberais. A ação do tempo e a fúria do mar completaram o desmantelamento total do velho fortim.
A inclemência do tempo, o saque pelos populares e o desvio da sua pedra para obras no Adro da Igreja, levaram a que hoje não seja possível identificar, com certeza certa, o local exato onde foi construído, embora se conheça a sua localização aproximada.
Cruzeiro
Monumento antigo que dá nome a um dos lugares da freguesia. A história particular deste cruzeiro não é conhecida. Historicamente os cruzeiros surgiram como símbolo do Cristianismo. Geralmente eram erguidos ao ar livre, no adro de igrejas, ou em encruzilhadas, praças ou cemitérios. Alguns surgiram para marcar acontecimentos de pendores variados e para proteção contra influências maléficas e feitiçarias.
Oratório
Construído no adro da Igreja de São Mamede, é um local de oração à Senhora da Saúde.
Antigo Posto da Guarda Fiscal
O antigo Quartel da Guarda Fiscal está situado em frente à praia dos banhos, mais conhecida como Praia da Maria Amélia, tendo sido construído em 1935. Devido a ter estado inativo durante muito tempo chegou a um estado de degradação avançado, tendo sido parcialmente recuperado em 2008 pela Junta de Freguesia, para futuramente ser dinamizado turisticamente.
CURIOSIDADES
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Vapor Tiber "Navio do Norte"
Investigador da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, José Pinto, e a jornalista da SIC Maria José Mendes, coordenados pelo guia de mergulho Casimiro Sampaio, estiveram em Vila Chã dando a conhecer os destroços do Vapor Tiber ou “Navio do Norte”, naufragado ao largo da costa de Vila Chã, em 21 de Fevereiro 1847, rondaria a hora e meia da tarde.
Os destroços deste navio de 56,29 metros de comprimento, 8,15 metros de boca, 5,26 metros de pontal, que deslocava cerca de 763 toneladas podem ser vistos e apreciados pelos praticantes do desporto de mergulho a cerca de 33 metros de profundidade.
Este navio estava equipado com 2 motores ou cilindros de 280 hp que faziam rodar as pás laterais e proporcionavam uma velocidade máxima de 9 nós. A sua construção era em madeira e tinha o seu casco revestido com placas metálicas e tinha a capacidade para transportar 225 toneladas de carvão para o seu funcionamento.
O Navio do Norte naufragou na viagem entre Gibraltar e Southampton, tendo como comandante o Capitão Bingham, e as causas deste naufrágio continuam inconclusivas.
Podemos ver um pouco da sua história através da reportagem SIC transmitida em 24/07/2019 no Jornal da Noite na rubrica "Aqui há história", e que conta com a preciosa ajuda da equipa de investigadores do LSTS da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), que ajudam a mapear os destroços do naufrágio.